Eu tenho quase 30 anos e me sinto a pessoa mais solitária do mundo
Eu me sinto solitária como num daqueles filmes de criogenia em que acordaram um espécime humano muitos anos e tecnologias depois, e agora estou perdida e não me encaixo mais nesta atual realidade que estou vivendo.
Eu sou sozinha por que vi meus amigos partirem, e eu só tive coragem para ficar enraizada no mesmo lugar.. eles tiveram filhos, casaram, mudaram de país, de cidade, e viramos contatos de telefone que se discam apenas em datas comemorativas.. mas eu não me sinto sozinha por isso, por que isso acontece, a gente cresce, pessoas mudam, pessoas se vão....
Eu sou sozinha por que quando eles partiram, eu já não sabia mais fazer amigos... quando eu os conheci, eles me pararam na rua, me abordaram no meio daquele show, marcamos de ver um filme, sentamos na calçada e bebemos, fomos tirar aquelas fotos no parque, e eu sentei pra almoçar com os pais de cada um deles, e as vezes os levei até em casa no meio da noite pra não ficarem sozinhos no escuro
Eu sou sozinha por que quando o tempo mudou, eu não mudei junto... eu pisquei e quando dei por mim tínhamos celulares de tela colorida, internet liberada 24 horas, milhares de fotos para ver e não sentir mais saudades de ninguém ou se perguntar como e onde aquela pessoa está, milhares de planos prontos feitos por você, para que só tenha que apertar o botão "aceitar"...
Foi nessa revolução que a minha alma antiga ficou pra trás.
Eu tentei acompanhar aos poucos, comprei um celular que faz tudo menos receber ligação, mesmo tendo esta opção (as pessoas que já não a usam), me cobraram mais, me cobraram muitos aplicativos: messenger, instagram, snapchat, twitter, lookbook, blog, canal no youtube. me cobraram tudo menos contato físico, e hoje em dia onde estão meus novos amigos? Rostos desconhecidos que não estão comigo durante o dia, mas que aparecem ao meu lado em fotos bonitas em alguma rede social, é como se só durasse a base de alcool e neon, mas no dia seguinte a bebida acaba, o neon apaga.
Eu fiquei pra trás por que eu não consigo acompanhar uma timeline, eu quero dançar com um bambolê no parque as dez da manhã, eu quero sentar na praça pra jogar jogo de tabuleiro as duas da tarde, eu quero ir bater perna com pessoas reais para ver aquela exposição de grátis, eu quero voltar a me divertir tendo só o dinheiro da condução, amigos e força de vontade...
Eu me sinto horrivel em meio aos círculos anti sociais da internet, onde as pessoas querem ser seu amigo se você responde rápido, se posta fotos bonitas, se está 24 horas conectado...
A internet pode ter aproximado quem está longe, mas afastou em muito quem está perto... aquele mundo frágil de aparências
Eu sinto falta dos meus amigos, e eu sou cabeça aberta para novos, mas eu não quero números da internet, papo no whatsapp, foto no instagram, aquele lendário "vamos marcar um dia"
Eu quero alguem que diga "Quero te ver, que tal irmos dar uma volta?", quero aquelas amizades que a gente veste roupas uma da outra, que conta segredos, que senta no chão pra esperar metrô abrir, que vai assistir apresentação de trabalho da faculdade, que vai na livraria, que pinta o cabelo uma da outra, ajuda a tirar foto, dá opnião na montação, a cúmplice pra conquistar o boy que você não tem coragem, que viaja junto, que junta moeda pra dividir a coxinha, que é quase uma gangue...
Sinto falta disso todos os dias, e vou ficando mais isolada conforme as amizades vão se estreitando a : "me passa seu whatsapp para marcarmos algo algum dia"
Afinal, meus melhores amigos são da época que trocavamos carta, não tinhamos internet, cameras digitais, e telefone tinha uma conta carissima, usavamos só pra dizer: "tal dia vamos nos ver"
Isso me deixa tão nostalgica, como se eu fosse permanecer assim sozinha para sempre, como se eu tivesse numa época que não é a minha, e tivesse que enfrenta-la apenas por mim mesmo. Eu grito: "Você quer ser meu amigo" e vejo os rostos baixados para um celular, um desktop... e eu continuo, e continuo tentando;;;
Quanto mais perderemos de nós pra solidão, sendo esta vida apenas uma?
Round here we're carving out our names
Round here we all look the same
Round here we talk just like lions
But we sacrifice like lambs
Round here she's slipping through my hands
- 09:25
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