Passei metade da minha vida enfiada em namoros longos, daqueles que nos tornamos dependentes tanto física quanto emocionalmente de alguém, e isso não foi nem um pouco benéfico para mim... me vi abdicando da juventude, do sucesso profissional e das minhas vontades em prol de relacionamentos imaturos que acabavam em nada , por conta de caprichos.. era fácil para mim começar um assim que acabava o outro, minha dependência gerava um ciclo sem fim, como se eu realmente tivesse medo de ficar só comigo mesmo.... eu acreditava que essa dança da cadeira de namorados me levaria a um caminho que um dia eu não quisesse botar fogo em um deles, e quisesse realmente amar um desses individuos que entravam e saiam da minha vida de tempos em tempos...
Mas o tempo vem, nós vamos para a faculdade, nós estamos atrasados para o trabalho, e as vezes muito cansados para ir para uma balada, cansados demais para conhecer novas pessoas, cansados demais para namorar, e então começamos a dar mais e mais valor a solidão, e quando menos percebemos, mergulhamos nela de cabeça...
Acredito que foi um lampejo das portas de maturidade que me fez me tornar uma pessoa sozinha... depois de tanto tempo acompanhada, eu precisava descobrir quem era eu quando não tinha mais ninguém em volta... eu precisava saber se gostava da pessoa que restava quando o neon apagava, e a chuva apertava de uma forma que não nos deixava sair de casa, eu tinha que me enfrentar,
Meu relacionamento comigo mesmo começou como qualquer tipo de relacionamento da minha infância: Tímido. Como tática comecei com rolês leves, me levando sozinha para tomar sorvete, visitar aquela livraria para folhear as páginas , sentindo o cheiro de papel novo calmamente sem incomodar ninguém ou parecer estranha, ver aquela peça de teatro que eu adiei tanto tempo pois nenhum dos meus garotos gostava de palcos.
Da timidez então rolou a paixão: Eu já não ligava de sair sozinha, eu inclusive preferia, gostava da cia da solidão, a gente saia sem hora pra voltar, se estava cansada se envia num táxi e ia dormir, se estava disposta, bancava a louca na pista dançando sem medo até o chão sem ninguém pra pedir pra parar, e era maravilhoso, eu sabia que aquilo ia crescer, que ia me dominar.
E veio o amor, a lascívia pela solidão... essa é a fase que você está mais lascada, pois você já passou pela fase que se acanhava em sair sozinha, entrou na fase que inclusive preferia, e chegou ao estágio que virou relacionamento sério: você não ligava mais se aquele seu amigo não quer te acompanhar naquele rolê que você quer ir: você vai sozinha do mesmo jeito. Aquele boy do tinder te deu bolo, e você já estava esperando ele na frente da balada? Foda-se, vou entrar sozinha, pedir um drink, e se eu tiver sorte, volto acompanhada pra casa...
Estar acompanhada.. é bom eu lembrar que estar sozinha é diferente de se sentir só, gostar de estar sozinha é gostar da liberdade das pequenas coisas: apreciar uma noite assistindo aquele filme, uma tarde lendo um livro, ouvir musica dançando na sala com o gato de estimação, fazer uma caminhada no parque sem se sentir mal por não ter companhia, é simplesmente não abdicar de suas vontades por não ter quem te acompanhe....
Estar sozinho. Não há nada de errado nisso, e com o tempo a gente aprende muito.... tive quase 4 anos sabáticos para ir trabalhando a mente e descobrir quem eu era e o que eu queria,... uma frase que eu sempre ouvia, e que hoje faz total sentido : "Você só estará preparado para se relacionar com alguém quando aprender a ficar só", é uma lição dura de aprender, mas que é necessária, eu precisei aprender... passei por todos os estágios, no primeiro ano chorei, achei que o amor tinha acabado para mim, no segundo ano sorri, conheci muitos amores de verão, viajei pelo mundo, no terceiro percebi que eu podia fazer o que eu quisesse sem depender de ninguém, achei que era auto suficiente, que eu era "imune" a essa coisa de amor, e que eu estava bem assim...
Aproveitei a cia de homens em festas, as vezes dividimos a mesma cama algumas horas, gente do mundo todo que me ensinaram tantas coisas, me ensinaram como as relações são valiosas, não importam o quanto dura, me ensinaram a aproveitar o máximo meu presente com quem estava ao meu lado, por que o futuro muda toda hora, e as pessoas vêm e vão. Me ensinaram que eu posso ser confiante, que eu posso ver quem eu gosto partir e contnuar vivendo sem ter o coração também partido,, na estrada aprendi a guardar as lembranças boas de cada um, a ouvi-los, a ter confiança, deixar partir quando precisa, e ficar sem cerimônias quando se quer ficar...
E então o quarto ano se aproximou.
Muitas pessoas criticaram 2016, dizem que foi um péssimo ano, eu não consigo ver assim, credito que foi o ano que pela primeira vez pensei em criar raizes, nos anos interiores, desde que saí do ultimo relacionamento decidida a ganhar o mundo, eu não pensava muito no futuro, eu não pensava em criar um lar, em ter algo meu, e dormir em cama compartilhada com alguém, eu queria viagens, eu queria conhecer mais e mais pessoas...
Mas com o tempo voltar para casa sozinho começou a não fazer mais tanto sentido, acordar do lado de desconhecidos com o olhar de "ok, agora vai embora" já não soava bem, fazer o processo de roleta russa do amor nas baladas já não tinha graça nenhuma... e as mesmas paredes que nos protegia todos os dias começava a não te lembrar ninguem, nem você mesma....
Entendi então que, depois de tantas milhas rodadas, de tantas pessoas que passaram, eu estava pronta para tentar de novo.
Entendi que isso que estava batendo na minha porta chama-se maturidade, e ela estava chegando para ficar, primeiro ganhando uma gavetinha na sua cômoda, e depois dominando não só ela como o guarda roupa inteiro quando você menos perceber, e olha: isso é bom.
Com quase 30 anos agora eu pude perceber, que pra mim ser 8 ou 80 não iria funcionar... não fui feliz estando sempre acompanhada, privando a minha vida, e também não era completamente feliz estando sozinha, em ambos os casos sempre me faltou alguma coisa, e não precisei calcular muito para entender que a equação certa seria um equilibrio destes dois... a solidão, e a companhia... que é divertido tanto transar loucamente ao invés de assistir um filme com quem você gosta, como também é maravilhoso ficar em casa numa sexta a noite sozinha colocando aquela série em dia, É legal o orgulho de ter feito um mochilão sozinha, como é muito foda rir na hora dos perrengue que esta se passando num mochilão com aquela pessoa que você gosta, e que te faz se sentir seguro em qualquer lugar do planeta, em qualquer situação... basta se permitir a conhecer uma criatura que entenda tudo isso .
Hoje sou uma pessoa mais sincera comigo, então preciso assumir: cheguei a uma idade que sinto falta da intimidade com alguém, e de certa raiz. Tenha calma, eu não disse que pretendo parar comminhas viagens, minha vontade de conhecer o mundo, mas por exemplo, esse ano comecei a reformar minha casa, então para poupar dinheiro só fiz viagens nacionais, por que tenho achado maravilhoso voltar para casa depois de dias vaijando e encontrar aquele lugar tao sua cara, que parece mais sua zona de segurança, aquele lugar que você vai lembrar que tem quando estiver perdido nas ruas de cingapura, ou ter escorregadod e bunda nas pirâmides do egito...
Eu costumo contar para os amigos que eu namorei de mais quando eu não sabia namorar, e hoje que eu acredito saber como se faz, as pessoas já não querem tentar... talvez essa seja a verdade, amamos errado e agora nos recusamos a nos permitir amar certo, por que estamos cansados e com medo de errar de novo na escolha.
Eu não tenho mais aptidão para gata solitária de balada, eu quero um rosto familiar para assistir netflix e pra rachar a gasolina pra criarmos nossas histórias em algum lugar entre montanhas e mar, viajando, eu quero rolar pela cama e ver do outro lado um cara descabelado acordando as duas da tarde e me dando bom dia... mas hoje em dia as pessoas não ficam para o dia seguinte.
E a gente, depois de tanto tempo sozinha, quando se abre, também cansa... por que a gente está pronta, a gente quer arriscar, a gente quer ver no que vai dar, enquanto os outros tem medo...
A gente cansa de ser sozinha, a gente cansa de não poder fazer planos com ninguém, a gente cansa de investir tempo em quem não quer nada, a gente cansa de querer e ninguém atender o chamado...
Eu não sei o quanto tempo caminharei, até dar um "match" cósmico com alguém que não tenha medo, que não coloque barreiras, que seja aquela pessoa pra te ligar para transar a noite, ou pra comer camarão na feirinha da liberdade de dia, aquela pessoa que diz: vamos sair, nos apaixonar, quem, sabe namorar, e se terminar nesse meio tempo, a gente vai sobreviver e vai começar tudo de novo... por que a gente só tem essa vida aqui pra ter tanto medo..
E vamos ouvir the smiths nos deprimindo, achando na letra total sentido, e todos aqueles status de "em relacionamento sério" vai doer na gente, vamos nos perguntar se ficamos sozinhas tempo demais até o mundo ter mudado tanto que ficamos pra fora e nem percebemos. Mas continuaremos, sempre vale a pena ainda manter-se aberto...
Enquanto isso eu continuo cansada, esperando, mas aprendendo, e ainda levando a solidão pra passear no parque e tomar sorvete...
- 13:33
- 1 Comments